Bel Pesce tem 28 anos e um currículo de dar inveja! Fundadora da escola FazInova, autora de três livros (A menina do Vale; A menina do Vale 2 e Procuram-se Super-Heróis), abriu a sua própria editora, estudou no Instituto de Tecnologia de Massachusetts por pura e total determinação e vontade, além de ter um programa na rádio CBN e uma cabeça com muitas, mas muitas ideias.
E você acha que acaba por aqui? Não, não, não. Basta uma visita rápida ao site pessoal da Bel para se ter uma noção da dimensão de possibilidades e projetos que um empreendedor pode atuar. São tantas vertentes para uma entrevista que nós, da agência Aspas e Vírgulas, ficamos com vontade de perguntar sobre tudo! Mas, como não conseguiríamos, focamos em perguntas sobre o segundo livro de A Menina do Vale, além de algumas sobre empreender.
A entrevista foi gravada e por isso tentamos ao máximo transcrever tudo para deixar você tão encantado quanto nós ficamos.
“A literatura me escolheu, mas eu também fiquei muito feliz em abraçá-la.”
1) O medo é um dos sentimentos mais perigosos que podemos sentir. Qual o papel dele no empreendedor?
Bel Pesce: Medo é algo que todo mundo sente, não tem como fugir disso. Até acho que algumas pessoas acham que ter coragem é ter ausência do medo, e não é bem assim. Tem gente muito corajosa que vai com medo mesmo, então por mais que a gente saiba que o medo pode ser algo que limita oportunidades, que faz com que a sua iniciativa seja menor, o sentir medo é uma maneira de conseguir calcular riscos. Uma pessoa sem medo algum pode se tornar uma pessoa um tanto quanto inconsciente, então é superimportante que você ao sentir medo entenda quais são os riscos reais e quais são questões psicológicas do negócio e que você possa, em cima disso, criar um plano para aquilo que você vai seguir adiante mesmo com medo, calculando os riscos, tendo um plano B, entendendo como fazer de uma forma menor, antes de fazer de uma forma maior, e por ai vai.
Então eu acho que o medo tem um papel importante no empreendedor como um cheque de realidade sabe? Uma checagem da realidade, para que você não veja as coisas nem piores, nem melhores do que elas são. Então assim: o medo absurdo é ruim, mas o medo honesto é legal, que te ajuda a pesar o risco, e em cima disso você conseguir criar planos B, C, D, fazer algo de forma pequena antes de fazer de forma grande, e conseguir pouco a pouco ir calibrando o que você faz em cima de resultados reais.
2) Além de dividir experiências, livros de empreendedorismo acabam tendo uma função de levantar a autoestima do leitor, de dizer “vamos lá, é possível!”. Como você recebe essa expectativa que depositam nesse gênero de livro?
BP: Eu não sei se o papel é realmente aumentar a autoestima, porque eu virar e falar: “Sim, é possível”, não é questão de autoestima, porque junto com o “sim, é possível” vem vários “se” junto: Sim, é possível, se você trabalhar duro; Sim, é possível, se você tiver uma boa… Então tem uma série de “se” que não é questão de você levantar a autoestima de qualquer um por ai, é questão de mostrar uma realidade mais nua e crua, em cima de histórias reais, de como foram feitas, então eu acho que o ponto não é levantar a autoestima, acho que o ponto é inspirar através de histórias reais, que é bem diferente de levantar a autoestima. O empreendedor é um cara que ele crê, ele acredita nas coisas. O empreendedor não vai fazer as coisas que ele não acredita. Claro que ele tem de pesquisar, claro que ele tem de entender os limites do que é ou não possível no momento, mas é raríssimo você ver um empreendedor que é uma pessoa negativa, problemática, um empreendedor pessimista. Complicado ser um empreendedor pessimista, porque as suas ações resultam na sua maneira de ver o mundo. Se você não acredita em nada como você vai agir? Então é muito difícil você ver um livro desmotivador para um empreendedor, você quer inspirar, nenhum livro quer quebrar a sua inspiração, têm muitos livros que falam de coisas reais, eu mesma tenho uma frase, tenho várias frases pesadas no meu livro, meu livro, que é um livro fofo, que fala que algumas pessoas irão cruzar o seu caminho com o único intuito de te mostrar o que você não quer para sua vida, sabe? Tem várias coisas como esquecer o glamour, sobre a importância de deixar a humildade sempre presente, e por ai vai. Então eu acho que o ponto aqui não é levantar a autoestima, não é o cara estar tristinho e fazer ele sorrir. De maneira alguma. O ponto é dar um contexto real, através de histórias reais, que inspirem os caras a tirar do caminho crenças limitantes que talvez façam ele nem tentar.
3) Recentemente você foi nomeada, pela Forbes, como uma das jovens com menos de 30 anos com mais potencial no país. O quanto esse reconhecimento mexe com você?
BP: Eu sou uma pessoa que, como eu posso explicar isso de uma forma que soe humilde, mas ao mesmo tempo soe uma gratidão muito grande? O que eu gosto na vida é de aprender, é de crescer com as pessoas, é de fazer coisas legais com pessoas legais, é de criar coisas, é disso que eu gosto. Tanto que eu sou engenheira de formação e nunca imaginei que trilharia um caminho tão forte em comunicação e que esse caminho tão rapidamente fosse me abrir alguns reconhecimentos como esse da Forbes. O quanto esse reconhecimento mexe comigo? Esse reconhecimento mexe muito comigo, mas ele não muda nada quem eu sou, não muda nada minha essência, pelo contrário, ele reforça que eu tenho sempre que ser quem eu sou sempre ser fiel a minha essência. Para mim é uma maneira de mostrar que se eu continuar trabalhando pesado como eu sempre trabalhei, eu vou cada vez mais fazer por merecer.
É uma responsabilidade gigantesca que eu amo ter; é um reconhecimento lindo, que me mostra que estou fazendo o que mais acredito, que estou sendo o que mais sou, e poxa, estou mostrando para as pessoas que é possível vencer sendo quem você é.
4) Em “a menina do Vale 2” você fala sobre o momento virtual em que vivemos, onde curtidas e seguidores se mostram fundamentais para muitas pessoas. Esses números de fato se tornaram um medidor, um termômetro para vários seguimentos, inclusive o literário. Como você enxerga o papel das redes sociais no futuro?
BP: Eu tenho uma visão que é peculiar, pode até estar errada, mas eu acho que quanto mais virtual a gente fica mais a gente valoriza o humano/humano. E claro, essa é a minha visão, eu posso estar ultra equivocada em cima disso, mas essa é a minha visão.
Eu acho que o que conta não é o número, é o engajamento. Do que adianta você ter 1 milhão de seguidores e 100 curtidas? Ou do que adianta você ter essas curtidas e você não influenciar positivamente alguém? Eu acho que pouco a pouco a gente vai mudar para métricas de engajamento, acho que está mudando, e claro que sempre tem o lado bom e ruim da história, é sempre Maquiavel. Você pega um Snapchat, o que ele te mostra é quem viu o seu snap, não é perfeito, tem que melhorar muito essas métricas, mas eu acho que essas métricas cada vez mais serão relevantes em cima do engajamento.
Mas, o papel das redes sociais no futuro elas tem um papel muito importante, elas tem um papel de disseminação, de pouco a pouco democratizar as coisas. Quem diria que eu, há quatro anos, quando lancei “A menina do Vale” iria alcançar 3 milhões de pessoas com um livro? Sem ninguém saber que eu existia? É meritocrático isso. Claro que tem muitas pessoas que não tem acesso, tem muita coisa que precisa mudar na base antes de falarmos de redes sociais, mas a rede social tem um papel muito importante de fazer com que você, primeiro encontre sua voz e segundo cresça sua voz para o segmento que você julgue importante para você.
5) Você acredita muito em planos a longo prazo. O que pretende alcançar a longo prazo?
BP: Meu sonho é ter um mini-império de empresas que ajude pessoas a conseguir lançar projetos relevantes e seguir em direção a seus sonhos. Pouco a pouco já está acontecendo. A Faz Inova, minha escola, é um despertar, ela ajuda as pessoas a entender o que elas realmente querem , porque elas realmente querem e como elas irão trabalhar realmente pesado por isso. A Encla, nossa editora, além de ter formado um formato totalmente diferente de editora que mescla online com offline, está lançando pessoas no mundo que talvez por um caminho tradicional não fossem lançadas. A nossa agência Figurinhas, é a mesma coisa: ajudando marcas, pessoas, projetos a encontrarem a sua voz, de uma forma que não encontrem só a voz, mas vá certeiro em quem pode ser influenciado positivamente por eles.
Então pouco a pouco a gente quer criar uma série de empresas, que impulsionam e aceleram pessoas que possam influenciar positivamente ainda mais pessoas. Esse é o e o meu longo prazo.
6) A literatura te escolheu, ou você escolheu a literatura?
BP: Eu sempre amei ler, sempre amei escrever. Eu já tinha escolhido a literatura, mas para mim, como meio de aprendizado, como meio de crescer mais. Agora, ela também me escolheu, porque se eu não tivesse entendido a magnitude do que você pode fazer positivamente ao abrir seu coração e compartilhar seus maiores aprendizados, eu não teria continuado nesse ramo. Para mim era um hobby, não era um negócio, então a literatura me escolheu quando eu fiz o primeiro livro online e viralizou de forma tão forte e eu vi o quanto estava influenciando as pessoas. Eu fui picada ali pela literatura, e poxa, chegou ao ponto de eu fazer mais três livros, de lançar gibi, de abrir editora. A literatura me escolheu, mas eu também fiquei muito feliz em abraçá-la.
Obrigada, Bel, por dedicar um tempo em nos responder! 🙂