Fui surpreendido semana passada com a mensagem de um amigo, que me perguntava se eu possuía em meu acervo a obra Guerra e Paz de Leon Tolstoi, fiquei curioso acerca do questionamento, uma vez que a obra é especifica e potente. Questionei a ele por qual motivo ele a queria,  qual não foi minha surpresa ao descobrir que a Rede Globo de televisão estava transmitindo uma série britânica, inspirada na obra, em sua programação noturna.

Passado o espanto, fui surpreendido novamente ao receber uma mensagem que me pedia uma resenha sobre a autora Jane Austen e seu maravilhoso livro Orgulho e Preconceito, pois o mesmo também seria inspiração para uma novela nas telinhas globais. Confesso que estes dois fatos em conjunto me lembraram e muito a obra literária Fahrenheit 451 de Bradbury (1920-2012) e suas tele telas que controlavam a mente nacional ao adaptar os livros clássicos para as telas e alterando como bem entendessem cenas, roteiros e personagens, manipulando assim o entendimento das pessoas a seus vãos prazeres e destruindo obras primas tecidas com maestria por escritores tão grandiosos.

 

Mas estamos aqui para falar de Orgulho e Preconceito, obra de importância fundamental para a inserção das mulheres e seus sentimentos em uma sociedade patriarcal, machista e controladora. Jane Austen, se atreveu a denunciar com louvor e maestria a opressão psicológica sofrida pelas mulheres, mesmo em uma Europa que fervilhava reinvindicações de igualdade ,fraternidade e união. Escrito de forma rápida e socialmente negado em suas primeiras tentativas, Orgulho e Preconceito revolucionou gerações e ainda hoje perdura como um dos livros mais vendidos nas versões (físicas e e-books). Embora crescida durante a época da regência do Rei George IV, Austen não retrata a vida da monarquia ou os luxos sociais de Londres, pelo contrário, retratava em suas obras uma oligarquia rural na qual o conservadorismo familiar era a lei. Embora as revoluções burguesas estivessem modificando o mundo ( a francesa estava em seu apogeu e a industrial estava se iniciando) a mulher mais uma vez não tinha sido inclusa nas novas mudanças, a educação feminina ainda era voltada ao lar, caberia a uma dama saber dançar, pintar, cantar, costurar, falar três idiomas, e acima de obedecer ao marido/anterior a ele a seu pai para que assim alcançasse a fama de bem vista. Jane descreve uma personagem forte que chocava a sociedade na qual vivia, trazia em suas ações suas inquietações e questionamentos assim como sua criadora.

 

“Mas confesso que a mim nada disso me encanta.

Prefiro infinitamente um livro.” (Jane Austen)

 

É impressionante como séculos depois a obra ainda continua tão atual, tão fresca como na época em que foi escrita, ainda hoje em pleno século XXI, Era da informação, onde tudo se pode, lidamos com pensamentos machistas e patriarcais que enxergam na mulher sua propriedade para vão deleito, prazer e dominação. No início da obra de Jane Austen nós nos deparamos com a rejeição da protagonista para com um personagem masculino e a dificuldade que o mesmo tende em aceitar está negativa.

Ainda hoje falamos que não é não – discurso repetitivo e que tem tomado ênfase até em protestos (parece-me que se faz obrigatório, a nós homens, a leitura de Jane Austen) Espero eu que esta adaptação tenha como principal objetivo mostrar como se constituía a sociedade retratada no livro, que o entendimento sobre o crescimento da presença feminina, sua garra e desejo de mudança sejam respeitados e principalmente que não ocorra a alteração na adaptação da obra literária para controle social, assim como retratado na ficção Farenhait 451 de Ray Bradbury.  Desejo acima de tudo que esta telenovela reacenda nas pessoas o desejo pela leitura e o amor pelos clássicos……Aaaahhh os amados clássicos.

 

Esse texto foi escrito pelo colunista especial Davi Ferreira dos Santos.
Davi tem 30 anos, é professor de história, pedagogo e livreiro.